Prólogo


Anjos caem todos os dias. Dias... Como contar os dias onde tudo é eterno?
Lithiel. Assim me chamaram... Enquanto tinha asas.
Pelo que vim, não posso dizer ao certo. O eterno onde tudo é puro acaba tornando a existência tediosa. As vezes pego-me pensando: Se não tivesse decaído, minha vida seria um tédio sem limites. O Apocalipse está perigosamente próximo e como imortal, não tenho nada a temer, no entanto, e essas frágeis criaturas chamadas 'humanos'?
Alguns temem o pior - o dia do juízo final -, outros simplesmente o ignoram. Acho isso absurdamente interessante. Será este o motivo pelo qual Aion e Lucius decaíram também?
Provavelmente.
Mas aqui não falaremos do fim, não por ser um assunto pouco definido, mas sim pelo vazio que deságua. O vazio é uma lamentável consequência e, o que tenho a vos mostrar é uma história que confunde até mesmo os espelhos. Onde deuses tornam-se humanos, humanos tornam-se anjos e anjos, demônios. Onde os olhares não se repetem e as almas são devoradas, destruídas e esquecidas como um brinquedo que perdeu a graça... Vira apenas um enfeite.
Lembro-me algumas vezes de que a maioria dos humanos se esquece de viver. Muitos simplesmente existem. Tanto é que, alguns são cheios de um conteúdo convidativo, cujo teor vale a pena ser explorado e outros, infelizmente são ocos como troncos de árvores, esquecidos em uma floresta encantada.
Por que existem tais diferenças entre eles? O que os opõe, mesmo que sigam os mesmos caminhos? Como algo tão simples, como um aglomerado de éter, se transforma em cristal fútil?
As perguntas envolvem e prendem nossa existência, puxando nossas almas até que toquemos a terra ou as chamas. As chamas que te aquecem quando você cai.
Ah... As chamas. São tão envolventes como uma mãe gloriosa, que acolhe o filho em um abraço quente e protetor. Sim, as chamas nos envolvem carinhosamente por um momento, mas apenas por um momento. A dor que se segue é terrível e logo descobrimos que tudo não passou de uma saborosa ilusão.
Sentimentos... Emoções... É por isso que caí?
Como um recém-nascido que abre os olhos pela primeira vez, abri os meus para esta nova existência. Onde a carne e o sangue significam mais do que a simples matéria. Onde a dificuldade inicial com coisas teoricamente tão simples, justifica cada vício, erro e até mesmo o destino da... Humanidade.
A Humanidade vive de olhos fechados.
Chegam a pensar que o tempo os espera e não o contrário. São tolos de acreditar que a medida que cometem erros, podem consertá-los depois. Entretanto, há certos erros que não podem ser consertados... Apagados... Esquecidos. São seres realmente muito engraçados que afundam na própria autoconfiança. Na própria estupidez!
E quando estão suficientemente afogados na própria ignorância, clamam por uma nova chance. Choram, impotentes e hipócritas em troca de migalhas, esquecendo-se de todo o resto. Aqueles que se esquecem de suas vidas, de apreciá-la e aprender com ela, abrem as portas para um banquete tão saboroso e macabro que nem mesmo sua existência pode apagá-lo. O banquete da casa dos demônios. O nosso banquete.
Culpem-nos por vossos erros. Porém, a verdade cedo ou tarde aparecerá. Não é nosso dever induzi-los para a escuridão e sim recebê-los de braços abertos quando desejarem fazê-lo. Os humanos começam e nós apenas acompanhamos a música, em uma dança.
Em troca, nossa humilde missão é recebê-los de acordo com o que esperam. Afinal, não podemos nos esquecer de que, como culpados pelo que há de pior no universo, devemos "recompensar" nossos... aspirantes a divulgadores.
Devemos apresentá-los ao bom e velho divertimento, provando que nem tudo é tão ruim quanto parece. É apenas o começo de um fim glorioso, uma valsa maravilhosa e uma história pecaminosa. A nossa história.
Abra sua mente e deixe os pensamentos fluírem. Segure minha mão e acompanhe-me nesta dança. Quando terminar, não serás mais o mesmo...